A geometria se anima, a matéria reconquista a vida,
o objeto desafia,  conquista o espaço, propõe novos  equilíbrios  e  ritmos,  cria  significados  novos,
que  o  artista  desdobra  no  seu  processo  criativo,
denso  de  poesia.

Márcio Sampaio

O
ARTISTA

                                                   Durante os sete primeiros anos de imersão em seus estudos, ele se dedicou exclusivamente à técnica de corte e dobra para alcançar a tridimensionalidade em suas obras, utilizando unicamente couro como material. Essa fase culminou em sua primeira exposição, há 46 anos, que aconteceu no Palácio das Artes, aclamada pela crítica como a melhor exposição de arte do ano, com curadoria do renomado Márcio Sampaio. No desdobramento de suas Séries, ao longo de sua trajetória, a geometria não é apenas um elemento técnico, mas uma linguagem. O escultor explora formas e símbolos ancestrais que dialogam com valores universais como eternidade, paz, estabilidade, e sustentabilidade, criando um diálogo visual que transcende épocas e fronteiras. 

Sérgio Rodrigo Reis, presidente da Fundação Clóvis Salgado, observa que em 79, com o fim da fase do couro, Carvão passou a adotar o aço como base de suas esculturas, em sintonia com o movimento construtivista, que valoriza a construção da obra em vez da simples composição. Esse movimento foi uma referência central em sua produção, levando-o a experimentação com materiais, técnicas e estilos diversos. 

Para Sérgio, a trajetória de Carvão é marcada por uma contínua reinvenção: “Ao se colocar numa posição diferente às regras estabelecidas, inclusive por ele mesmo, e se abrir para possibilidades que tem encontrado no percurso artístico, Ricardo Carvão Levy tem buscado sempre se reinventar.” O presidente da Fundação Clóvis Salgado ressalta que a constante busca do artista pelo novo confere uma identidade singular ao seu trabalho. O resultado é uma obra que explora as possibilidades estéticas e simbólicas da escultura, guardando uma forte identidade ao mesmo tempo em que permanece aberta a leituras múltiplas e interpretações variadas. Em sua prática artística, o "improvável" – elementos descartados pela sociedade – é transmutado em arte, ganhando novo sentido e propósito. Assim, sua arte converge em um campo de experimentação, onde sua ela se mantém viva, pulsante e em contínua evolução.


"Minha intenção sempre foi criar algo que perpassasse por um processo de uma vida inteira.
Esta é minha grande obra.”
Ricardo Carvão Levy

A
TRAJETÓRIA

Nascido em 1949, em Belém do Pará, Ricardo entrou cedo em contato com as influências das artes pré-colombianas: marajoara e tapajônica. Em 1964, mudou-se para Belo Horizonte com a família. Durante uma viagem ao México, em 1972, Ricardo voltou a se aproximar da arte pré-colombiana ao visitar o Museu Nacional de Antropologia, onde sentiu-se profundamente tocado. Neste mesmo ano, iniciou sua carreira. Os sete primeiros anos se deram através de um processo criativo que foi caracterizado por um rigoroso recolhimento em torno dos preceitos geométricos e matemáticos que, na visão do 

artista, serviam como um alimento para o espírito. Logo, sua trajetória profissional voltou-se para a pesquisa tridimensional. Nessa fase, surgiram obras utilizando sola de couro, buscando enaltecer o material inapto e inóspito. A fase do couro chegou ao fim em 1979, quando, após experimentações, Ricardo adotou o aço como principal matéria-prima. O movimento construtivista, que valoriza a construção da obra de arte em oposição à composição, guiou e inspirou sua produção, coincidindo com a inclusão de materiais como outros metais, papel, madeira e vidro na feitura das esculturas. Ao desafiar as regras estabelecidas, inclusive por ele mesmo, e abrir-se para as possibilidades encontradas em seu percurso artístico, Ricardo Carvão Levy busca constantemente se reinventar. Sua orientação é a construção e desconstrução das formas, além da variação contínua de materiais, estilos, técnicas e acabamentos. O resultado é um trabalho que, apesar de apresentar diversas interpretações do tridimensional, mantém uma forte identidade simbolizada pela exploração das possibilidades estéticas, simbólicas e até lúdicas da escultura. Dessa forma, a partir de outras percepções, somadas ao seu discurso criativo, ele mantém viva a própria arte.

a
CRIAÇÃO

próprio apartamento como uma galeria. Ele compõe um espaço criativo onde deposita, dia após dia, nas paredes, móveis, chão e jardins, um caleidoscópio de possibilidades e formas, muitas vezes feitas com objetos cotidianos. Essas criações, analisadas em conjunto, formam uma grande obra de arte. Seu apartamento torna-se um oásis criativo repleto de esculturas de diversas dimensões e materiais. Com suas mãos, latas, pedaços de metal e diversos utensílios transformam-se em esculturas inspiradas em formas orgânicas da natureza. A produção assume outra dimensão ao sair do ambiente íntimo e alcançar o espaço público e o mercado de arte, estabelecendo conexões com galerias, colecionadores, merchands e museus.

O artista utiliza objetos do cotidiano e se apropria do